Prof. Dr. Luke Parry (Universidade de Lancaster) ressalta a importância da "visibilidade"
O Dr. Luke Parry, da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, falou sobre “invisibilidade social” na região amazônica, em sua palestra “Vida às margens: combatendo a invisibilidade na Amazônia e além”. Dr. Parry desenvolveu estudos na região desde 2004, e seus interesses passaram da ecologia aplicada para a segurança alimentar no contexto de mudanças climáticas. Agora ele começou a direcionar seus interesses de pesquisa para a Caatinga, onde ele deseja aplicar suas abordagens metodológicas e analíticas para entender o novo cenário. “Eu gostaria de compartilhar minhas experiências de pesquisa da Amazônia em relação aos desafios sociais e ambientais na Caatinga”, diz ele.
Dr. Parry adotou uma abordagem interessante para seu cenário de pesquisa na Amazônia: imersão total. Ele se mudou com a família para morar lá, o que lhe permitiu entender melhor a população local e compreender as complexas relações sociais em maior medida. Ele percebeu, então, que “as pessoas da Amazônia estão ausentes da lente global”. Em sua palestra, ele mostrou como a abordagem de pesquisa na Amazônia é geralmente de escala global, abordando questões como a ciclagem de carbono e a mudança climática. Esses estudos afirmam ser importantes para toda a humanidade, mas deixam de reconhecer o bem-estar das próprias pessoas que vivem nas áreas estudadas. Essa enorme lacuna é onde coisas como insegurança alimentar, injustiça e invisibilidade encontram espaço para existir e persistir, apesar de toda a atenção dada pelos pesquisadores.
Não ter seus direitos, necessidades e etnia reconhecidos ou considerados importantes significa ser “invisível”, viver à margem da sociedade. E para muitas pessoas na Amazônia, isso é uma realidade. Isso significa que eles estão fora do alcance de medidas políticas que poderiam melhorar sua qualidade de vida em muitos aspectos, tornando essas populações “incapazes de florescer”, nas palavras do Dr. Parry. É por isso que é vital falar sobre justiça ambiental e seus pilares: reconhecimento, participação e distribuição. Eles são, sem surpresa, exatamente o que está faltando para tantas pessoas “invisíveis” da Amazônia. Isso significa que, em última análise, eles não são "vistos" e considerados importantes, eles não participam dos processos políticos de modificação de seu ambiente e seus meios de vida, e não compartilham as boas e más consequências disso.
A justiça ambiental, no entanto, não está atingindo algumas comunidades na região amazônica. Há aproximadamente um milhão de pessoas vivendo em cidades sem estradas, que no Amazonas estão a até um mês de viagem de barco da capital do estado, Manaus. Essa falta de acessibilidade pode levar a muitos problemas, por exemplo, tende a elevar os custos de aquisição de alimentos importados. Alguns lugares estão mesmo presos nos chamados “desertos alimentares”, áreas que têm acesso limitado a alimentos acessíveis e nutritivos. "Concluímos que os desertos alimentares são difundidos nas cidades de florestas tropicais estudadas, mas destacamos a importância de entender os contextos locais de varejo e não-varejo de alimentos", diz o Dr. Parry.
Finalmente, para combater a invisibilidade, há muito o que nós, pesquisadores, podemos fazer.
Nas palavras do Dr. Parry, “existem muitas formas de tornar o invisível, ‘visível’. Muitas ações potenciais estão dentro da área de influência dos pesquisadores, por exemplo, os tipos de perguntas que fazemos, onde trabalhamos, com quem, como nos envolvemos com outras partes interessadas. Ou podemos trabalhar com a sociedade para replicar iniciativas de sucesso aparentes para outros lugares”. A partir da palestra do Dr. Parry, ficou claro que combater a invisibilidade social, trabalhando na base sólida da justiça ambiental, é fundamental para construir um futuro melhor e mais igualitário para todos os povos ao redor do mundo.
